Formação - Tempo da QUARESMA

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A liturgia em geral se despoja de alguns elementos para tomar um caráter mais austero, em maior sintonia com esse tempo de conversão. A cor roxa nos lembra o convite a contrição e a penitência, traços espirituais que devem nos acompanhar durante esses 40 dias porque sabemos que somos pó e que ao pó voltaremos (Como escutamos na quarta-feira ao receber as cinzas), ou seja, somos criaturas necessitadas de Deus, e não autossuficientes como a soberba do nosso coração muitas vezes quer nos fazer acreditar.
Nesse tempo se omite o canto do Glória nos Domingos e o Aleluia que se canta para aclamar o Evangelho. Também são sinais visíveis de um convite a maior recolhimento e reflexão sobre a necessidade que temos de Deus.
Aproveitar bem essa experiência de austeridade na liturgia pode fazer crescer em nós o desejo de retornar ao abraço amoroso de Deus. A liturgia mais simples revela a experiência de que o coração deseja mais alegria, mais felicidade, que ele tem saudade dos dias em que festejávamos plenamente, coisa que faremos novamente com imenso júbilo no Domingo de Páscoa, onde os sinos soarão com força enquanto cantamos o Glória.
Existem algumas solenidades durante o período da quaresma que modificam um pouco a liturgia, porém não devem ser entendidas como algo aparte desse tempo, mas como solenidades inseridas nesse contexto. Celebramos São José, no dia 19 e a Anunciação do Senhor, no dia 25 de Março. Apesar do caráter mais festivo, não se deve perder o contexto em que estamos, preparando nossos corações para a Páscoa de Jesus. Voltando ao exemplo do início de um curso, saber que no decorrer do mesmo haverá aulas sobre conteúdos paralelos já nos prepara para não perder o foco do curso inteiro. Por outro lado, se sabemos aproveitar bem tais “cursos paralelos”, poderemos aproveitar melhor o curso de modo geral.


Depois de ver como funciona a dinâmica quaresmal em geral, olhemos com um pouco mais de calma o que nos dirá a Palavra de Deus nos Domingos de quaresma. A proposta não é adiantar o que nos dirá Deus, porque a Palavra de Deus é viva e fala ao coração de cada um de maneira pessoal, mas preparar melhor o terreno do nosso interior para acolher essa semente que Ele quer depositar, sempre por meio da Igreja.
As primeiras leituras da Missa nos contarão a história da Salvação, que depois voltaremos a escutar na Vigília Pascual. Começando pela criação do mundo (Primeiro Domingo), passando por Abraão, nosso pai na fé (Segundo Domingo), por Moisés e o êxodo (Terceiro Domingo), por David (Quarto Domingo, pelos profetas (Quinto Domingo) e culminando com o Hino do servo de Yahvé (Sexto Domingo, que é o Domingo de Ramos). Todos esses relatos são para nós uma volta as fontes, a história de Deus com seu Povo. Durante a quaresma vamos percorrendo esse caminho, que culmina em Jesus ressuscitado.
Os Evangelhos nos ajudam a refletir sobre a vida cristã. É uma vida que possui dificuldades e tentações como as de Jesus no deserto (Primeiro Domingo), mas que é glória e alegria como vemos na transfiguração do Senhor (Segundo Domingo). Entramos nessa vida pelas águas do Batismo, como a Samaritana quando pede a água viva (Terceiro Domingo), também recebemos a Luz de Cristo que nos permite ver como o cego curado (Quarto Domingo) e ressuscitamos para a vida verdadeira como Lázaro (Quinto Domingo). Tudo isso só é possível pela paixão, morte e ressurreição de Jesus (Sexto Domingo, Domingo de Ramos).
As segundas leituras estão pensadas como um complemento dos grandes temas da História da Salvação e da preparação para a Páscoa. Os Salmos desse tempo são salmos penitenciais como o salmo 50 e salmos de súplica que nos lembram da necessidade que temos da misericórdia de Deus para uma vida santa.


Sabemos que nesse tempo de quaresma somos convidados a uma maior conversão e a Igreja nos propõe o Jejum a oração e a caridade como meios para isso. Essas práticas, no entanto, não podem ser ritos exteriores, coisas que fazemos porque “é o que se faz” normalmente. A Igreja, com sua Liturgia, nos presenteia a Palavra de Deus e a Ele mesmo na Eucaristia, para que possamos viver mais autenticamente esses bons costumes.

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